O futebol brasileiro lidera em ceder jogadores para competições sul-americanas. A alta presença em seleções revela o bom momento do mercado, mas o calendário cheio gera dilemas. Estrangeiros aumentam na Série A, afetando clubes e torcedores. Lesões e calendário agitado são desafios a superar.
O jogo entre Bolívia e Venezuela, em El Alto, a mais de 4 mil metros de altitude, pode ter parecido distante para alguns torcedores brasileiros. No entanto, a partida contou com jogadores de clubes brasileiros em campo. Do lado venezuelano, o são-paulino Ferraresi e o corintiano José Martínez estiveram em ação. Já os bolivianos começaram com Haquín, da Ponte Preta. A dupla do Santos, Miguelito Terceros e Enzo Montero, entrou e marcou dois gols da vitória por 4 a 0.
Essa partida simboliza o atual momento do mercado sul-americano e a posição do Brasil como principal fornecedor de convocados para as seleções do continente. Para as duas rodadas das Eliminatórias realizadas na atual data Fifa, 43 atletas que atuam no Brasil foram convocados. Nenhum outro país cedeu tantos jogadores. A Inglaterra, que possui a liga mais rica do mundo, vem em segundo, com 30. A Argentina completa este top-3, com 25.
Dos 43, oito estão a serviço da própria seleção brasileira. Os 35 restantes são estrangeiros distribuídos em outras oito seleções. Os salários mais altos em relação ao restante do continente alçam o Campeonato Brasileiro a um status de “Premier League sul-americana”. Esta Data Fifa ainda tem mais três atletas de times brasileiros convocados para seleções de outros continentes.
A temporada europeia no começo, com os jogadores ainda recém-saídos das férias, poderia justificar o expressivo número de atletas que atuam no Brasil. Mas a última Copa América, disputada entre junho e julho nos Estados Unidos, mostra que o fenômeno não é pontual. Do total de jogadores das 16 seleções participantes, 37 jogavam por clubes da Série A. É o mesmo número de convocados saídos da Premier League original e quatro a menos que da MLS, a liga norte-americana.
Os clubes da Série A não são os únicos a fornecer jogadores para a rodada atual das Eliminatórias. Na B, o Santos tem cinco convocados e a Ponte Preta, um. A internacionalização do futebol brasileiro aumentou o número de estrangeiros em campo, atualmente de nove. Na última janela de transferências internacional, o número de “gringos” na Série A aumentou de 123 para 130. Entre as nacionalidades, os argentinos lideram, com 45 representantes.
Nem todos os impactos desta tendência, contudo, deixam os torcedores satisfeitos. Cada vez mais, as convocações têm sido vistas como obstáculos para seus próprios times. A pausa para a Data Fifa é justamente o momento para os jogadores se recuperarem do excesso de jogos e terem um raro período de treinos. Uma vez a serviço de suas seleções, perdem este momento.
A lesão de Pedro, do Flamengo, durante treino pela seleção e perdeu todo o restante da temporada, contribui com esta rejeição. O atacante rompeu o ligamento do joelho esquerdo e perdeu todo o restante da temporada.
A responsabilidade por este problema não é das seleções. Mas, sim, da CBF e dos clubes. Afinal, o problema é o calendário inchado que ainda precisa dividir espaço com as Datas Fifa. Um sintoma disso é o fato de os torneios locais voltarem um dia após o período de jogos das seleções.
Na próxima quarta-feira, por exemplo, a Copa do Brasil terá Corinthians x Juventude e Athletico x Vasco. Com exceção dos gaúchos, todos os outros contam jogadores que estão a serviço por alguma seleção. O calendário é um dos principais vilões nessa história, e a discussão sobre como melhorá-lo é constante.
O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, defende que a convocação para a seleção do seu país é sempre uma honra e que os clubes devem encarar dessa maneira, como reconhecimento ao trabalho do jogador e também ao clube que emprega aquele atleta e tem um ativo que fica exposto positivamente em jogos de seleção. No entanto, admite que o calendário é um problema e precisa ser discutido e melhorado.
A discussão sobre o calendário é um tema recorrente no futebol brasileiro. Os times mais afetados são os que participam de competições sul-americanas. Portanto, eles deveriam ter um calendário mais flexível nos estaduais e já entrar pelo menos na terceira fase da Copa do Brasil.
Em resumo, o futebol brasileiro lidera em ceder jogadores para competições sul-americanas, o que é um reflexo do bom momento do mercado. No entanto, o calendário cheio e as lesões são desafios a superar. A discussão sobre como melhorar o calendário é constante e necessária para que os clubes e os jogadores possam se beneficiar dessas oportunidades.