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Análise: Brasil e Argentina miram integração regional com moeda comum

Com a moeda “sur”, governos Lula e Fernández pretendem alcançar o quase impossível: a integração econômica de uma região na qual os países nem sequer formam uma zona de livre comércio. Economistas manifestam ceticismo.Argentina e Brasil querem criar uma moeda comum. Isso poderia resultar na segunda maior união monetária do mundo, atrás somente da União Europeia (UE). A América Latina responde por 5% do Produto Interno Bruto (PIB) global, e a UE, por 13%. Não é à toa que o projeto sul-americano dominou as manchetes dos jornais econômicos na Europa no fim de semana.

Na América do Sul, por outro lado, as declarações dos líderes de Brasil e Argentina quase passaram despercebidas. Desde os primeiros projetos de integração sul-americana, há 50 anos, a ideia de uma moeda comum volta e meia alimenta as fantasias dos políticos – mas tais anseios produziram nada mais do que material para trabalhos acadêmicos.

O economista brasileiro-argentino Fabio Giambiagi criticou a retomada da discussão como “perda de tempo”. Segundo Giambiagi, a falta de planejamento econômico estatal por parte dos governos e as diferentes conjunturas econômicas impedem o desenvolvimento de um projeto monetário sério.

Cenários econômicos distintos

De fato, os dois Estados não poderiam ser mais distintos em suas políticas monetária e fiscal. O Brasil tem uma taxa de câmbio livre e um banco central independente. Já o banco central argentino atendeu a uma ordem do presidente Alberto Fernández e está imprimindo dinheiro para compensar o déficit orçamentário. Como resultado, a inflação na Argentina é de 95% ao ano. No Brasil, a inflação ficou levemente abaixo dos 6% em 2022.

O Brasil possui mais de 300 bilhões de dólares em reservas cambiais, o que faz do país um credor do sistema financeiro global. A Argentina, por sua vez, deve mais de 40 bilhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI), de quem o país é dependente – e se não o fosse, já estaria insolvente há muito tempo.

As reservas internacionais da Argentina estão quase zeradas. O governo adotou rígidos controles de capital para impedir que os argentinos comprem dólares. Existem cerca de duas dúzias de taxas de câmbios diferentes para o dólar. No mercado negro, a moeda americana vale o dobro da cotação oficial.

E também não existe um mercado comum entre Brasil e Argentina, nem mesmo uma zona de livre comércio. No Mercosul – a comunidade econômica formada por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai -, as importações de inúmeros produtos estão sujeitas a altas tarifas. Várias isenções também se aplicam à tarifa externa comum. Acrescentar uma moeda comum a essa frágil “comunidade econômica” seria como colocar a carroça à frente dos bois.

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