Um dos grandes jogadores argentinos dos últimos anos, Carlos Tevez hoje em dia vai muito bem em sua carreira como técnico. E foi quase dois anos após “pendurar as chuteiras” que ele revelou os reais motivos que o fizeram se aposentar. Durante entrevista a Juan Pablo Varsky no ‘Clank!’, o ex-jogador de Corinthians, Boca Juniors, Manchester United, Juventus, entre outros clubes, se emocionou ao lembrar de tudo o que passou em 2022.
“Nesse mesmo ano meu pai ficou doente, primeiro pegou Covid e depois detectaram câncer na garganta. Foi algo muito pesado, ter ele internado e ter que ir jogar. Eu lembro dos jogos, ter que ir brincar com meu velho em estado vegetativo, para logo depois ter que sair e ser o capitão do Boca. Se perdíamos, a culpa era minha e se ganhássemos os outros ficavam com os méritos. Comecei a não encontrar sentido de jogar bola e aquele ano foi muito difícil para mim. Quando meu velho morreu, eu disse ‘por que mais?’. Eu não aguentava mais. Já não encontrava sentido na minha carreira, em continuar treinando, em acordar cedo para continuar jogando futebol. Então foi aí que decidi parar.”
Desde então, Carlitos não voltou a jogar futebol, a não ser que o irmão o chame: “Às vezes, quando marcava um gol ou estava jogando bem, no intervalo eu começava a chorar. Meus companheiros sabiam muito bem da situação. Tinha que secar os olhos e sair para o segundo tempo como se nada tivesse acontecido. É uma luta contra o futebol? Não sei. Hoje, se você me convidar para jogar, não vou, não vou calçar as chuteiras. Mas se for com fernet e churrasco, sim”, brincou.
Mas Tevez, assim como muita gente que fez sucesso dentro dos campos, não conseguiu ficar muito tempo longe. E logo começou a trabalhar como técnico. Primeiro no Rosario Central, e desde 2023, no Independiente.
“Decidi ser treinador quando parei de jogar. Não tinha vontade de jogar mais e aí comecei a me preparar para ser treinador, mas antes nunca tinha pensado em ser treinador. Passei três meses fora conversando com treinadores, me preparando com meus irmãos. Tenho a experiência de lembrar do Marcelo (Bielsa), (Carlos) Bianchi, que foram os treinadores no meu início como jogador”, disse, citando também Sir Alex Ferguson, Antonio Conte e Massimiliano Allegri como outros técnicos que marcaram sua carreira.
Tevez assumiu o comando do Rojo em agosto de 2023, quando a Copa da Liga já havia começado e após a saída de Ricardo Zielinski o time lutava para manter a categoria e o clube estava imerso em um conflito político interno após diversas demissões da diretoria eleita naquele mesmo ano que incluía o de Fabián Doman, o presidente.
“Estamos construindo no meio de um pântano, de onde saíram o presidente e o vice. Na primeira partida perdemos para o Colón, todo mundo falava que ia ser rebaixado. Muitos jogadores que hoje são referência saíram chateados, não conseguiram nem pisar no campo do Independiente”, lembrou Tevez. sobre o clima em Avellaneda naquela época. Não sabíamos que orçamento tínhamos, apresentei os jogadores A, B e C e disse ‘traga o que puder’ e construímos a partir daí. Se tivéssemos o orçamento do Boca, do Racing ou do River, seria outra coisa. O clube está totalmente falido e endividado”, admitiu ele durante a entrevista.
“Desde que assumimos, marcamos menos pontos apenas que River e Racing. Você tem que começar daí. Eu entendo o torcedor do Independiente, mas o que vejo hoje é aquela linha de tranquilidade de que estamos construindo alguma coisa. Entendo que queremos ser campeões e nos classificar para Copas, mas temos que saber de onde partimos. Temos feito um bom trabalho, mas há coisas que as pessoas não veem e um resultado ou outro te colocam para cima ou para baixo. Se você ganha, você é Guardiola e se perde, você não sabe de nada. Você tem que saber como manter essa linha de gestão quando ganha ou perde.”
Na hora de explicar porque decidiu assumir o comando da equipe, ele não hesitou: “Porque gostei do desafio e foi também para demonstrar que nem todo mundo pegaria o Independiente totalmente em chamas para dar um estilo de jogo e lutar pelo título”, comemorou, antes de se defender de críticas que recebe: “Claro que fiz o curso de treinador, senão não conseguiria dirigir. Hoje isso também me assombra, (eles acreditam que) quem saiu de um bairro pobre não pode ser treinador.”