A conexão entre futebol e política não é recente. Desde a popularização do esporte nos anos 1930, governos nacionalistas e fascistas perceberam seu potencial de influência. Seleções nacionais e clubes foram frequentemente utilizados como instrumentos de propaganda ou distração por diversos regimes, especialmente durante períodos ditatoriais. Além disso, manifestações políticas também ocorreram por meio de símbolos nos uniformes e ações dentro de campo.
No Brasil, a interferência política no futebol ficou evidente durante a Ditadura Militar. Após o fraco desempenho da seleção na Copa de 1966, os militares começaram a intervir na CBD (atual CBF). A situação se intensificou no governo do General Médici, conhecido torcedor de futebol. Um episódio marcante foi a substituição do técnico João Saldanha por Zagallo às vésperas da Copa de 1970, após desentendimentos entre Saldanha e Médici.
A conquista do tricampeonato mundial em 1970 pelo Brasil, com uma delegação repleta de militares, foi um sucesso político e social. A primeira transmissão ao vivo da Copa pela TV no país foi apresentada como símbolo da modernização promovida pelo governo. A euforia da vitória também serviu para desviar a atenção das denúncias de violações de direitos humanos que ocorriam no país.
Como resposta à ditadura, surgiu nos anos 1980 o movimento da “Democracia Corinthiana”. Liderado por jogadores como Sócrates e Casagrande, o Corinthians implementou um sistema de gestão democrática, onde todas as decisões importantes eram tomadas coletivamente. O movimento teve impacto dentro e fora de campo, com os jogadores usando camisas com mensagens de apoio às eleições diretas.
Na Espanha, o regime do General Franco também utilizou o futebol como ferramenta política. Franco implementou o “nacionalfutbolismo”, visando fortalecer o nacionalismo espanhol através do esporte. O Real Madrid foi escolhido como símbolo desse projeto, em parte devido à sua fama internacional.
Enquanto o Real Madrid ganhava prestígio, outros clubes sofriam perseguição do governo franquista. O Barcelona, por exemplo, teve dirigentes presos e executados, sendo substituídos por pessoas ligadas ao regime de Franco.
O auge do Real Madrid (1955-66) coincidiu com a reabertura internacional da Espanha após o período de isolamento pós-guerra. Foi uma oportunidade para o regime mostrar o poderio do futebol espanhol no cenário internacional.
Esses exemplos históricos demonstram como o futebol, por sua popularidade e capacidade de mobilização, tem sido frequentemente utilizado como instrumento político. Seja para promover ideologias, distrair a população de problemas sociais ou como plataforma de resistência, a relação entre futebol e política continua sendo um tema relevante e complexo.